segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Resenha: A última Dama do Fogo


"O caminho iniciático é trilhado por todos nós. 
Trilhá-lo é mais importante que chegar ao seu fim."



Autor(a): Marcelo Paschoalin
Editora: LeiaSempre
Páginas: 366
Publicação: 2010
Skoob: livro & autor
Onde comprar:  Estronho & Letraimpressa (blog do autor)







Uma obra sensível, tocante, surpreendente: 
assim como nossa própria vida pode ser.




Após uma tempestade, Deora, náufraga, é encontrada sem memória. Sua vida, ou o que resta dela, é então tranformada quando ela se entrega a uma jornada mística que a mudará para sempre.
Forjada pela chama, é iniciada nos mistérios que permitirão a ela compreender a manipular a essência do fogo e a mais pura forma de magia - aquela que somente é dominada por quem se permite renascer das cinzas.
Os passos de Deora, então, tornam-se os nossos, refletindo nossa busca - decidir recuar ou escolher continuar em frente, mesmo sem ter consciência de que estamos diante de um caminho iniciático, é o que faz de nós o que somos dia a pós dia.
Deora segue adiante, apesar dos desafios e obstáculos, permitindo-se ser como a chama que regra e guia sua jornada. E, ao acompanharmos sua história, corremos o risco de termos nosso coração tomado pela emoção, nossa vida transformada e, até mesmo, nossa própria trilha mística desvelada.
Entregar-se a essa jornada é receber também as bênçãos da chama que ilumina o caminho da última Dama do Fogo.

A palavra que eu usaria para descrever este romance épico? Supreendente.
De fato, Marcelo Paschoalin, grande construtor de cenários e de tramas, nos surpreende a cada novo capítulo. Não, não falo aqui de grandes mistérios a serem revelados, ou suspenses de tirar o fôlego. Falo sobre o modo distinto em que a história é contada: cada capítulo é uma fase da vida dos personagens, como se fossem contos sobre uma certa época, tendo como fio condutor os lugares e as pessoas.
Como escritora, digo que este é um grande mérito de Marcelo: conseguir manter a unidade mesmo com passagens grandes de tempo, o que significa desenvolvimento e amadurecimento dos personagens entre um episódio e outro. O que significa mostrar as personalidades descritas e (em maior ou menor proporção) amadurecidas, sem em momento algum se contradizer ou colocar coisas sem sentido.
Outra coisa que me chamou a atenção foi o modo de escrita: também distinto porque se utiliza de palavras não muito comuns em nosso vocabulário cotidiano, mas que servem perfeitamente a seu propósito, ou seja, me manteve presa à trama - tanto que esse foi um dos livros que eu li mais rapidamente, e não porque eu queria terminar logo, mas sim porque a leitura fluiu muito bem. Nem senti os capítulos passarem.
Mas, além de todas estas constatações maravilhosas, digo-lhes uma coisa de antemão: se vocês estão procurando livros que contenham explicações detalhadas para tudo o que acontece, esqueçam este. Marcelo é mestre em deixar subentendidos, para que nós pensemos sobre. E imaginemos junto.
E é desse aviso que eu tiro o meu maior elogio: a capacidade, por enquanto única, de não explicar tudo. De saber o que revelar e o que deixar para que o leitor pense, e construa seus próprios significados, trilhas e tramas. E olha que já li bastantes livros na vida, mas por enuanto esse foi o primeiro em que percebi tal artifício. Muito bem empregado, eu diria.
Afinal é como a própria leitura em si, e - em maior proporção - a vida deve ser: nem tudo nos é revelado, e tudo o que acontece e percebemos é tão importante quanto as lacunas que nossa imaginação felizmente(?) se incumbe de preencher.
Ao final disso tudo, me vejo na obrigação de comentar uma última coisa, que em resenhas anteriores não fiz porque não senti tanta necessidade quanto agora:
falo-lhes da capa.
Sim, ela é bonita, sim muito bem feita - apesar de achar que o titulo podia estar um pouco mais em evidência, mas acho que isso é o de menos.
O que importa é o seguinte: não acho que ela realmente traduz o espírito do livro.
Sim, penso que capas são a primeira impressão que uma pessoa tem de uma obra, e se a tal for diferente do que o autor quer passar, isso pode ser um impasse, pode afastar leitores, ou pior, causar desapontamentos. É claro que é impossível que o leitor veja exatamente o que o autor quis passar (tanto com relação à capa quanto à história em si), mas fazer com que essa lacuna seja minimizada é muito importante também.
Por que digo isso?
Ora, porque a capa mostra algo bem concreto: uma mulher, com ornamentos e poderes. E o livro (pelo menos no meu ponto de vista) é quase o oposto disso: trata-se de algo mais etéreo, como um sonho, como mensagens e modos de ver a vida, como a imaginação.
fikdik^~


Nota: 4,7 (recomendadíssimo, pouquíssimas restrições)


5 comentários:

  1. Acho que nunca ouvi palavras tão doces acerca do meu livro. Muito obrigado por me ter deixado participar de seu universo literário.

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  2. Nossa. Que resenha linda! Adorei ler estas palavras, já li o livro e sei exatamente o que você quiz passar ao leitor.

    Não conhecia seu blog, mas irei seguir.

    Beijos

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  3. Esse livro é maravilhoso! Conheci o Marcelo pelo Twitter e vi seu trabalho. Quando comprei o livro eui estava lendo Saramago... mas desisti (coisa feia né? mas infelizmente não é para mim) bom quando começei a ler, a história me prendeu tanto que li entre 2 e 3 dias. Ainda brincamos que o Marcelo venceu de 3X0 o Saramago srsr Mas é isso, o livro é bom, a história é boa e a continuação (espero que tenha) será melhor ainda!!! Viva a literatura nacional!!! ^__^
    http://memoriesoftheangel.blogspot.com/

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  4. Comecei a ler ontem e já estou gostando, resenha legal.

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  5. ai gente brigadão pelos comentários <3
    mesmo!

    hahaha é, Milena, Saramago é tenso mesmo... conheço muita gente que desistiu, vc não será a primeira nem a última

    e siiim, um viva para a literatura nacional!!

    ah outra coisa: minha mãe acabou de ler o livro hoje e gostou tb!^^ heheheh (e estamos exatamente neste momento discutindo nossas impressões e sensações sobre o livro! é incrível como pensamos coisas parecidas! heheh)

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