quarta-feira, 23 de março de 2011

Resenha: Narciso - tédio e fúria


Autor(a): Roque Neto
Editora: Quártica
Páginas: 168
Publicação: 2010
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"Ao leitor, a surpresa."



Sim, é exatamente como defino esta obra. Surpreendente.
Sabe quando você lê a sinopse (ou vê um booktrailer), constrói toda uma potencial história na cabeça, e quando finalmente pega aquela obra pra ler, fala "hã? Jura que era assim? Poxa, acho que me enganei..." 
Então, começou exatamente desse jeito: eu tinha visto o booktrailer, e sendo leitora de narrivas mais fantasiosas e/ou intimistas (ou seja, aquelas que descrevem detalhadamente os sentimentos dos personagens), ao me apresentar à história de Francisco (não, o personagem principal não chama Narciso! Há!) confesso que fiquei um pouco desapontada.


E por que?
Porque a escrita pareceu rasa, meramente descritiva. Eu, que esperava algo forte desde o começo, me deparei com um estilo leve, simples até demais. Com direito a algumas repetições de termos e tudo.


Mas...
É, mas...
A coisa começou a esquentar quando a história foi se desenvolvendo, o personagem se revelando, e colocando em prática suas verdadeiras intenções. E de repente me ve dentro da cabeça de um assassino. Um psicopata. E não tinha mais como escapar de lá.
Aquela linguagem antes simples e extremamente descritiva, se mostrou muito adequada às intenções - e à personalidade - de Francisco.   
E esta leitora aqui, que esperava uma retórica ao estilo Bentinho Santiago (Dom Casmurro, do Machadão), me vi em meio a uma narrativa antes subestimada, e que agora me causava todo tipo de sentimentos: torpor, náusea, revolta, dor.


E Roque Neto conseguiu manter esse ritmo até o final. Grande final. Aquele que te faz querer voltar ao início do livro, pra conferir se era aquilo mesmo - o que pouquíssimas obras consequem, e somente daquelas realmente boas. Sério, na minha vida de amante de livros, ou seja, em praticamente 20 anos, dá pra contar nos dedos os que conseguiram surtir tal efeito. E este conseguiu.


Sem contar que, pensando agora, o final é tão simples que até poderia ser imaginado desde o início, mas tão inteligente que as maquinações do personagem principal não permitem isso.
Falando em personagens, devo admitir que a inteligência e loucura de Francisco praticamente ofuscam todos os outros: uma personalidade muito bem construída, ao lado de várias outras, algumas também bem trabalhadas, outras mais normais, banais, até esquecíveis. Subutilizados? Pode ser. Mas assim é a mente de alguém narcisista: só dá importância a ele próprio e aqueles que lhe interessam.


É incrível o que um bom autor pode fazer em menos de 200 páginas.
Por isso, ofereço uma salva de palmas para o senhor Roque Neto.
E votos para que ele seja mais conhecido. Afinal todo bom autor merece.


E vocês, já tinham ouvido falar deste romance?

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