quarta-feira, 13 de abril de 2011

Resenha: Nanquim Descartável (4)

"As apaixonadas aventuras de Ju e Sandra"


Criação, Roteiro e Edição: Daniel Esteves
Desenhos: Wanderson de Souza, Mário Cau, Júlio Brilha, Fred Hildebrand, Wagner de Souza, Alex Rodrigues, Mário César e Carlos Eduardo.
Impressão: Gráfica Juizforana 
Distribuição: Via Lettera e Quarto Mundo
Páginas: 96
Publicação: 2010



Onde realidade, sentimentos e sonhos se encontram e entrelaçam. 
O resultado? A vida. 




A quarta edição da série vem em formato álbum, com mais uma história completa de Ju, Sandra, Tuba e novos agregados. Desta vez finalmente descobrimos quem é o ex-namorado que atormenta os pensamentos de Ju, e acompanhamos uma importante e estranha conversa que resolverá esse conflito existente desde a primeira edição. Além disso, vemos Sandra viajando para sua cidade natal e também encontrando com um ex-namorado, porém, com resultados bem diferentes do encontro de Ju. Enquanto tudo isso ocorre, Tuba empenha-se em tentar descobrir se já teve alguma paixão na vida. Uma história sobre paixões perdidas, mudanças e passado.
(sinopse retirada de: 


Ao abrir esta revista, nos deparamos com a frase "essa é a história onde nada acontece, mas muita coisa é dita".  
E Daniel Esteves não poderia ter definido melhor sua obra.
Bom, para chegar a este ponto, vamos começar do começo, e é muito justo falar aqui não só da edição 4, mas sim das 4 como um todo (coloquei esta aqui porque assim fica mais fácil de identificar, e porque sinceramente a acho uma das mais marcantes. Mas vamos com calma).

Uma história aparentemente simples no começo: momentos no cotidiano de jovens adultos com seus rolos, problemas, brigas e comédias. Jovens artistas tentando sobreviver em meio à selva urbana paulistana "cinza" - como diz a personagem Ju. 

Na primeira edição tem-se exatamente isto: a apresentação dos personagens e história. Na segunda edição, situações envolvendo-os, alguns questionamentos internos, certos segredos-iceberg mostrando apenas sua pontinha. Sinceramente, interessante, mas nada muito surpreendente - e como foi colocado lá no começo, nem é a intenção do autor. 

Não senti grande empatia pela história nessas duas primeiras leituras porque são o retrato de cotidianos que não fazem parte do meu universo, o que acabou gerando um certo distanciamento (sendo este não muito bom para a fidelização do público - mas repito, por enquanto,  o tal "público" se resume a euzinha).

http://tinyurl.com/44n42xt
No terceiro volume as situações começam a ser melhor explicadas, Daniel começa a revelar mais o íntimo de seus personagens, principalmente de Ju. Foi justamente a partir daí que começou a grande empatia que tenho por esta obra. 
É o salto do particular para o geral, de algo específico pra temas mais abrangentes e mais tocantes. Um marco essencial. Afinal todos convivemos com aqueles pensamentos e sentimentos alguma vez, e portanto nos identificamos com os personagens, criamos laços - o que é, então, o essencial para o sucesso de uma obra. 

(Foi muito interessante porque ao terminar de ler o segundo volume eu estava não tão interessada para começar o terceiro. Mas assim que o fiz, acabei devorando-o, começando em seguida o quarto, e isso em metade do tempo que levei para ler os primeiros.)

http://tinyurl.com/3kmej9b
Assim chegamos ao quarto volume. O maior e mais profundo até agora. Onde passados são revelados, não em forma de flashbacks, mas em forma de sonhos - o que confere à história uma liricidade e uma beleza ímpar. As situações se definem mais, os personagens tornam-se mais próximos, como que confidentes do leitor, pedindo um ombro, um apoio. Ou apenas um pouco de atenção. 

Ah claro, os personagens. Não precisa falar muito mais, já dá pra perceber que são muito bem construídos, cada vez mais palpáveis. E o interessante é que são todos baseados em pessoas reais - assim como as situações.

Outro traço característico notável é a própria pluralidade de traços e pontos de vista, conseguidos a partir da criação de cada capítulo por um artista diferente - tanto dentro da edição quanto de uma a outra. No início, até pode causar certa estranheza, afinal não estamos acostumados com mudanças de estilo às vezes tão bruscas dentro de uma mesma revista, mas logo depois percebemos o quanto isso é rico, uma ótima sacada! - porque o que é a vida além de diferentes traços e pontos de vista que se entrelaçam ao nosso redor?


Nota: 4,5 (recomendadíssimo, poucas restrições*)
*feitas a apenas aqueles que acham que uma obra deve ter ação para se tornar interessante. E para estes, alerto: estão perdendo muita coisa boa.

Um comentário:

  1. Vale lembrar que a Nanquim Descartável tmb pode ser conferida online no site dela dentro de um novo coletivo de webcomics que foi criado, o Petisco: http://petisco.org

    As histórias da Nanquim estão sendo publicadas desde a primeira edição neste endereço: http://petisco.org/nanquim/

    E em breve terão histórias inéditas feitas diretamente pro site da Nanquim Descartável.

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