segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Impressões de uma Flauta Transversal

[voz de apresentador de circo]

e agoora, com vocês...!
um conto escrito por este ser que vos fala, logo depois de uma aula prática de iluminação em Fotografia Digital, ainda com a empolgação do exercício correndo nas veias!
eeee!
junto delas, os produtos finais da aula!


tenham um bom espetáculo!



Aula Prática (ou) Impressões de uma Flauta Transversal

E ai me tiraram do meu estojo. Confortável. E me colocaram em um pano... azul acho. Ouvi alguém dizendo que era preto, mas com certeza aquilo era azul. Marinho.
E me mexeram, me desmontaram. E daí pá! uma luz forte foi acesa, iluminando quase toda minha superfície. Eles tavam felizes, me rodeando. Todos segurando umas coisas meio quadradas que fazia clek. Acho que chamavam de máquina.
Uma delas era a maior. O dono era o maior também. Ah e tinha aquela mocinha mais magrinha e também alta. Mas a máquina dela era mais normal. Tinham também outras pessoas, além do meu dono, que permaneceu quase todo o tempo só me fitando – com orgulho, acho. E todos aqueles humanos me olhando, com interesse. Me senti importante pela primeira vez desde que meu dono me usou, faz um tempo já. Acho que em contagem humana devia fazer anos. Mas não interessa agora. Voltemos ao que eu estava falando.
Bom, arrumaram o pano. E mexeram numas folhas brancas, perto, longe. Gostei. Me fazer mais bonita. Taí.
Enquanto guardavam o momento naquelas caixinhas-máquina, falavam sobre coisas que eu não entendi muito bem. Nu artístico. Submarino. Beatles. Humanos...
E daí uma mulher pequena, mas com ar maduro chegou perto, e falou pra eles mudaram alguma coisa. Me tiraram do lugar de novo, colocaram meu pé em cima da minha cabeça. Vixe quase fiquei tonta. Tentei voltar pra uma posição mais confortável, mas toda vez me giravam pra posição que eles queriam. Muita folga não? Mas tudo bem, resolvi ser boazinha, afinal não é toda vez que tem tanta gente interessada por mim de uma vez. E a mulher mais madura pelo menos falou algo que eu entendia: sol sustenido. Fiquei radiante por ela falar minha língua – ok quase a minha língua, traduzida na dos humanos. Mas pelo menos já era alguma coisa. E assim resolvi cooperar pra valer.
E daí, de amadorismo, começou a surgir imagens realmente boas. Fotos, acho. É, acho que chamavam assim. E ficaram felizes, abriram sorrisos que só os humanos conseguem fazer. Bonito também. Mas sabia que o mais bonito (a mais bonita, vai) era eu, e fiquei ainda mais feliz. Meu brilho deve ter aumentado por isso, mas aposto que ninguém percebeu, esses humanos autocentrados.
E enrugaram o pano, jogaram mais luzes, pessoas trocaram de lugar. Sorrisos. Me senti feliz, útil de novo. Já disse isso?
Não importa.
A brincadeira (ou era sério?) até que durou bastante. Os rostos refletidos em meu metal estavam começando a ficar cansados quando decidiram parar – só o de uma garota baixinha parecia querer mais. Mas ela não falou nada também. Problema dela.
Apagaram a luz. Meu dono me pegou, me montou e me colocou no escuro de minha casinha. E juro, ela não estava mais tão escura assim. Acho que o brilho de minha felicidade ainda iluminou um pouco o meu conforto, ainda sentindo o calor da luz e das mãos, dos sorrisos e da diversão que eu pude proporcionar ali.
E me senti satisfeita.



[bem, não preciso nem dizer que O CONTO E AS FOTOS SÃO DE MINHA AUTORIA E NÃO PERMITO QUALQUER UTILIZAÇÃO SEM PERMISSÃO PRÉVIA, né?]

e claro, quem quiser ver mais fotos, vai na minha pág do Flickr, ali do lado (na sessão as Vidas também estão aqui)


Um comentário:

  1. Este conto me lembra muito as maravilhas escritas por Hans Christian Anderson. Mas com uma sensilidade própria.

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