Fechar a sexta semana sentada em uma praça,
escrevendo no mac ao ar livre e ao som de semáforos intermitentes e pássaros
das casas em volta é realmente inspirador. Ainda mais depois de um final de
semana de morte e vida.
Espera, calma, eu explico. Nada de pts ou
coisa parecida. O que vou contar agora é algo muito mais interno, mais doloroso
e mais revelador do que uma ressaca.
É que esta semana que se passou foi
particularmente desafiadora porque, depois de lidar e continuamente me
acostumar com o exterior, agora veio a parte mais difícil: lidar com o
interior. Com a saudade, com a dúvida, com a confusão. Muitos sentimentos
juntos e misturados, pirando a cabeça, apertando o peito, corroendo o estômago.
E as perguntas. Ah sim, elas: o que é isso? O que eu preciso fazer? O que eu
posso fazer pra parar tudo isso e conseguir viver direito de novo?
E as respostas vieram, uma a uma, durante
os dias desta semana.
Primeiro: sabe aquela virose? Então,
resultou que seus efeitos foram potencializados pela fragilidade emocional em
que me encontrava (encontro?), e ela demorou mais de uma semana pra ir embora,
só me deixando com cada vez mais vontade de ir também. Para onde? Ué, para
longe de todos esses incômodos, para o lugar onde eu me sentia bem e acolhida,
rodeada de pessoas amadas. Sim, voltar para casa, pra perto das pessoas de quem
sinto mais falta do que poderia imaginar ser possível. Mas ao mesmo tempo
querendo ficar, superar, crescer e descobrir coisas novas. É claro que isso
resultou em confusão interna, confusão esta que não estava clara para mim até o
momento em que essa massa pesada de sentimentos embolados transbordou em
lamentos, gemidos e lágrimas.
Essa foi a minha primeira descoberta e
libertação. Minha primeira morte e vida. Já faz uma semana.
Nos dias que se passaram, tentei manter
esse esquema de desabafar sempre que precisasse (já que, aliás, sempre busquei
esconder sentimentos, enterrá-los. Achava que isso era sinônimo de força. Ah
como eu estava enganada), mas ainda sentia incômodos e pressões internas que
não conseguia entender.
Foi pouco a pouco, a partir de conversas
com meus queridos brasileiros e questionamentos internos que os nós cada vez
mais profundos do meu ser foram se desatando. Dolorosamente, claro, mas sempre necessário.
Neste final de semana outro ponto muito
importante veio à tona: minha imensa fragilidade emocional é causada por dois
pontos muito importantes (que mesmo aparentemente distintos ao final são um só):
- aqui não tenho, por perto, as pessoas em
quem me espelhava para construir o meu ser. É que sempre fui alguém que gosta
de seguir exemplos, de fazer das pessoas queridas e próximas modelos de
conduta. Resultado? Me senti mais perdida que cego em tiroteio. Pra onde olhar?
Para onde seguir? O que fazer? Quem vai me mostrar o que fazer? Eu? Como assim,
eu? Aliás eu posso fazer isso? Sou realmente capaz?
- até agora – acho que por medo – não
busquei construir aqui certos pilares que me sustentavam e me ajudavam a manter
a cabeça erguida e seguir, dia a dia. Como assim? Bom, não sei vocês, mas
existem coisas como pequenas recompensas diárias que me ajudam a dar o meu
melhor, para poder merecê-las: depois de trabalhar bastante, me permitir
descansar, ler um bom livro ou mangá, assistir um filme ou um anime, ou até
escrever se possível, comer coisas gostosas ou simplesmente contar com o ombro
de alguém querido e próximo. Como a última opção está mais difícil, e eu estava
(inconscientemente?) exagerando na penúltima, percebi que preciso muito da
primeira, o que eu estava relegando a segundo plano já faz alguns dias, e não
dando a devida atenção já faz algum tempo.
Isso porque minha cobrança interna subiu às
alturas: potencializada pela carga de trabalhos e exigências da facul, somada
aos meus outros compromissos diários (comprar comida, lavar roupa e cuidar da
casa), e embolada com os planos e trabalhos, eu não estava conseguindo fazer
metade do que me havia programado. E isso, confesso, é quase uma morte para
mim, já que sei que existem pessoas que dependem do que eu faço para fazer seus
próprios trabalhos. Mas resultou que eu fiquei tão nervosa, impaciente e
frustrada com a falta de tempo, que a cabeça se recusava a trabalhar quando eu
sentava pra fazer o que quer que fosse. Eu não queria fazer nada, e tudo
parecia um fardo muito maior do que eu conseguiria aguentar – até o simples responder
emails. Era um sinal do corpo de que tinha algo muito errado ali, e que eu
precisava fazer algo a respeito.
Bom, como isso, em especial, é uma mudança
que exige repensar valores que eu prezo muito (como sempre dar o máximo, não
importa o que isso custe), confesso que estou encontrando especial dificuldade
nesse ponto. Mas através do lema “cada coisa a seu tempo, uma coisa por vez”
espero realmente conseguir me acalmar e segui-lo à risca. Já que essa é a
verdade, pois especialmente pra mim, foco e dedicação são muito necessários
para que algo saia a contento, ou seja, não sou uma pessoa que faz várias
coisas ao mesmo tempo.
Por isso, mais do que nunca, estou seguindo
o conselho que sempre dei aos queridos, e que só agora percebo o quão
importante é: respeite os próprios limites e faça as coisas de coração. O que
não sair na hora não era pra ter saído e pronto.
Por último, mas não mais importante, com
todas as coisas para se fazer, estou cada vez menos em contato com meus amigos
daqui e do Brasil, o que pesou muito esta semana em especial. Mas por um lado
foi bom porque sem isso eu não acho que teria contato suficiente comigo mesma
para descobrir tudo o que acabei de contar pra vocês.
...mas mesmo assim...
Céus, o quão difícil é tudo isso!