segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Relatos de uma Brasileira Espanhola #5



Fechar a sexta semana sentada em uma praça, escrevendo no mac ao ar livre e ao som de semáforos intermitentes e pássaros das casas em volta é realmente inspirador. Ainda mais depois de um final de semana de morte e vida.
Espera, calma, eu explico. Nada de pts ou coisa parecida. O que vou contar agora é algo muito mais interno, mais doloroso e mais revelador do que uma ressaca.

É que esta semana que se passou foi particularmente desafiadora porque, depois de lidar e continuamente me acostumar com o exterior, agora veio a parte mais difícil: lidar com o interior. Com a saudade, com a dúvida, com a confusão. Muitos sentimentos juntos e misturados, pirando a cabeça, apertando o peito, corroendo o estômago. E as perguntas. Ah sim, elas: o que é isso? O que eu preciso fazer? O que eu posso fazer pra parar tudo isso e conseguir viver direito de novo?

E as respostas vieram, uma a uma, durante os dias desta semana.
Primeiro: sabe aquela virose? Então, resultou que seus efeitos foram potencializados pela fragilidade emocional em que me encontrava (encontro?), e ela demorou mais de uma semana pra ir embora, só me deixando com cada vez mais vontade de ir também. Para onde? Ué, para longe de todos esses incômodos, para o lugar onde eu me sentia bem e acolhida, rodeada de pessoas amadas. Sim, voltar para casa, pra perto das pessoas de quem sinto mais falta do que poderia imaginar ser possível. Mas ao mesmo tempo querendo ficar, superar, crescer e descobrir coisas novas. É claro que isso resultou em confusão interna, confusão esta que não estava clara para mim até o momento em que essa massa pesada de sentimentos embolados transbordou em lamentos, gemidos e lágrimas.

Essa foi a minha primeira descoberta e libertação. Minha primeira morte e vida. Já faz uma semana.

Nos dias que se passaram, tentei manter esse esquema de desabafar sempre que precisasse (já que, aliás, sempre busquei esconder sentimentos, enterrá-los. Achava que isso era sinônimo de força. Ah como eu estava enganada), mas ainda sentia incômodos e pressões internas que não conseguia entender.
Foi pouco a pouco, a partir de conversas com meus queridos brasileiros e questionamentos internos que os nós cada vez mais profundos do meu ser foram se desatando. Dolorosamente, claro, mas sempre necessário.

Neste final de semana outro ponto muito importante veio à tona: minha imensa fragilidade emocional é causada por dois pontos muito importantes (que mesmo aparentemente distintos ao final são um só):

- aqui não tenho, por perto, as pessoas em quem me espelhava para construir o meu ser. É que sempre fui alguém que gosta de seguir exemplos, de fazer das pessoas queridas e próximas modelos de conduta. Resultado? Me senti mais perdida que cego em tiroteio. Pra onde olhar? Para onde seguir? O que fazer? Quem vai me mostrar o que fazer? Eu? Como assim, eu? Aliás eu posso fazer isso? Sou realmente capaz?

- até agora – acho que por medo – não busquei construir aqui certos pilares que me sustentavam e me ajudavam a manter a cabeça erguida e seguir, dia a dia. Como assim? Bom, não sei vocês, mas existem coisas como pequenas recompensas diárias que me ajudam a dar o meu melhor, para poder merecê-las: depois de trabalhar bastante, me permitir descansar, ler um bom livro ou mangá, assistir um filme ou um anime, ou até escrever se possível, comer coisas gostosas ou simplesmente contar com o ombro de alguém querido e próximo. Como a última opção está mais difícil, e eu estava (inconscientemente?) exagerando na penúltima, percebi que preciso muito da primeira, o que eu estava relegando a segundo plano já faz alguns dias, e não dando a devida atenção já faz algum tempo.

Isso porque minha cobrança interna subiu às alturas: potencializada pela carga de trabalhos e exigências da facul, somada aos meus outros compromissos diários (comprar comida, lavar roupa e cuidar da casa), e embolada com os planos e trabalhos, eu não estava conseguindo fazer metade do que me havia programado. E isso, confesso, é quase uma morte para mim, já que sei que existem pessoas que dependem do que eu faço para fazer seus próprios trabalhos. Mas resultou que eu fiquei tão nervosa, impaciente e frustrada com a falta de tempo, que a cabeça se recusava a trabalhar quando eu sentava pra fazer o que quer que fosse. Eu não queria fazer nada, e tudo parecia um fardo muito maior do que eu conseguiria aguentar – até o simples responder emails. Era um sinal do corpo de que tinha algo muito errado ali, e que eu precisava fazer algo a respeito.
Bom, como isso, em especial, é uma mudança que exige repensar valores que eu prezo muito (como sempre dar o máximo, não importa o que isso custe), confesso que estou encontrando especial dificuldade nesse ponto. Mas através do lema “cada coisa a seu tempo, uma coisa por vez” espero realmente conseguir me acalmar e segui-lo à risca. Já que essa é a verdade, pois especialmente pra mim, foco e dedicação são muito necessários para que algo saia a contento, ou seja, não sou uma pessoa que faz várias coisas ao mesmo tempo.


Por isso, mais do que nunca, estou seguindo o conselho que sempre dei aos queridos, e que só agora percebo o quão importante é: respeite os próprios limites e faça as coisas de coração. O que não sair na hora não era pra ter saído e pronto.

Por último, mas não mais importante, com todas as coisas para se fazer, estou cada vez menos em contato com meus amigos daqui e do Brasil, o que pesou muito esta semana em especial. Mas por um lado foi bom porque sem isso eu não acho que teria contato suficiente comigo mesma para descobrir tudo o que acabei de contar pra vocês.



...mas mesmo assim...

Céus, o quão difícil é tudo isso!